Bel-Air: Como é sua relação com seus irmãos?
Uma das séries que esquentam meu coração é Um Maluco No Pedaço, todas as lutas e discussões que a série levanta se mantêm atuais mesmo após anos da estreia. Com isso, não é possível esperar menos da releitura roteirizada e dirigida por Morgan Cooper, chamada Bel-Air.
Agora com novos atores e dilemas, a produção conta com duas temporadas já publicadas no Star+ e a produção executiva de Will Smith, que passou o manto de protagonista para Jabari Banks. Não posso negar que antes do lançamento da primeira temporada eu estava muito ansiosa para assistir essa releitura, porém as críticas negativas me afastaram um pouco. Eu fiquei com tanto medo de me decepcionar que não assisti nada.
Contudo, venci o medo e decidi que estava na hora de ver. Para surpresa de algumas pessoas: eu gostei bastante! A série cumpre com a proposta dela e entrega um roteiro bom (com uns furos, ausência de comédia e rápido demais, porém é bom), personagens com mais profundidade como um Geoffrey (Jimmy Akingbola) que agora possui uma história de verdade e a Hillary (Coco Jones) que não é mais apenas uma menina fútil.
Acredito que as críticas negativas pesem muito mais no peso dramático e rapidez do roteiro, que apresentou quase todos acontecimentos das temporadas da série original em uma única temporada do reboot, e nas mudanças feitas na história e personagens do que realmente na obra em si. Nós, seres humanos, temos dificuldades para lidar com mudanças principalmente se é relacionado a algo que gostamos muito ou temos um apreço emocional forte.
Vocês devem imaginar vários temas que poderíamos conversar por aqui sobre a série, como racismo, abandono paterno, carreira, política, entre outros. Porém, um episódio específico mexeu muito comigo, ao ponto de fazer escrever um texto todo apenas por ele: a relação entre irmãos.
A relação de Phillip e Julius em Bel-Air
A forma como pais e mães educam seus filhos moldam o relacionamento entre irmãos. Na ficção, podemos ver um pouco disso em obras como “Frozen”, quando ao descobrir o poder da filha mais velha, Elsa, os pais isolam a filha impedindo o contato dela com a irmã, Anna. Essa separação causa um trauma grande em Elsa gerando-a um sentimento de que há algo de errado com ela, ao mesmo tempo que cria um abismo entre as irmãs que não podiam nem ao menos tentar formar um laço já que sempre havia uma porta entre elas (literalmente).
Diferente das irmãs presentes no longa da Greta Gerwig, “Adoráveis Mulheres”, que também é uma releitura da obra de 1994, onde mesmo cada uma buscando coisas diferentes para suas vidas, uma respeita muito a outra. Pois, tiveram uma criação acolhedora e que lidava bem com as diferenças entre elas.
Da mesma forma que a educação dada pelos pais moldam esse relacionamento, a ausência deles ou de parte deles também deixa rastros, como é o caso de “Desventuras em Série” e “Lilo & Stitch” em que os irmãos mais velhos recebem a carga emocional e física de cuidar e criar seus irmãos mais novos, o que gera um estresse e um sobrecarga gigantesca nos mais velhos e uma cobrança forte nos mais novos.
Meu Deus, fala logo o que isso tudo tem a ver com o tio Phil em Bel-Air!!!
Ok, Ok… No 6º episódio da 2ª temporada de Bel-Air é realizada a confraternização da família Banks, onde Phillip Banks (Adrian Holmes) e toda a família recebe seus parentes para curtirem o dia com competições e brincadeiras, mas o relacionamento cheio de disputas entre Phil e seu irmão, Julius Banks (Bill Bellamy), gera alguns atritos entre eles e os outros familiares.
O tempo todo o Julius joga na cara do Phillip que ele teve a oportunidade de cursar faculdade, além de fazer questão de mostrar que isso não fez diferença já que ele também tem uma boa situação financeira. E Phil insiste que o mais velho devia ter corrido atrás de estudo e um emprego que demandava menos esforço físico.
No final, dialogando com calma, Phil descobriu que o irmão mais velho tinha mágoa dele, pois seu pai nunca deixou Julius fazer faculdade, pois a preferência era pelo caçula. O estudo e carreira do irmão mais velho sempre foram deixados de lado com a desculpa de que o único que tinha o dom para os estudos era o Phil. O peso da cena pode não ser percebido por alguns espectadores que estão mais atentos a outros assuntos também abordados no episódio (o que é compreensível).
Com isso, mais uma vez é notável como a criação dada a duas pessoas pelos mesmos pais podem ser totalmente diferentes, da mesma forma que pais podem ajudar seus filhos a construírem suas vidas, eles também podem aos poucos minar seus filhos, fazendo-os trilhar caminhos de traumas e confusão emocional.
O que você está sendo para os seus filhos: construção ou destruição? A educação que você proporciona é respeitosa entre seus filhos, ou você está apenas gerando uma aposta de cavalos onde você já tem um garanhão preferido? O respeito de ambas as partes é ideal para que todos possam ser felizes tanto nas relações entre pais e filhos quanto nas relações fraternas.