Bridgerton: Como a trilha sonora pode ser mais do que um elemento

Bridgerton: Como a trilha sonora pode ser mais do que um elemento

Bridgerton vai na contramão do que geralmente acontece nos filmes e séries que não proporcionam liberdade criativa aos compositores, assim utilizando trilhas que não acrescentam nada no contexto da obra, existindo apenas para cumprir a obrigação de ter, sendo que obras como Um Lugar Silencioso já mostrou que o silêncio pode ser ensurdecedor. No caso da obra de John Krasinski, a conversa sobre sons e trilhas é mais profunda, mas consegue mostrar mais qualidade do que algumas obras atuais.

Atualmente, várias obras se permitem apenas ao básico, se a cena triste, a trilha é triste. Se é cômica, é uma trilha cômica, não contendo nenhum enriquecimento ou, no mínimo, surpresa ao espectador.

Desde a primeira temporada da série da Netflix, lançada em 2020, a produção de época busca “transformar” as canções da atualidade em novas versões com instrumentos clássicos. Em 2022, Chris Van Dusen, criador da série, explicou no evento TUDUM, da Netflix, como foi a escolha da trilha sonora da série. “Escolhi todas essas músicas por motivos muito específicos. Cada uma é incrivelmente poderosa e profundamente emocional à sua maneira especial. Eu sempre tento muitas músicas diferentes para qualquer cena antes de encontrar a perfeita para usar.”

Bridgerton musicas trilha sonora Um Lugar Silencioso Girls Like You Maroon 5 Rainha Charlotte Guardiões da Galáxia Go All The Way Raspberries Baby, Please, go all the way The Handmaid's Tale You Don't Own Me Saygrace Heaven Is A Place On Earth Belinda Carlisle Evidências do Amor Chitãozinho & Xororó Cheia de Manias Raça Negra Ainda É Tempo Eu Quero Perder Você

Cada música é colocada com delicadeza nas cenas para que seu significado complemente o contexto da história que está sendo contada. No primeiro episódio da primeira temporada, já podemos perceber isso com o cover de Girls Like You (Maroon 5) que toca quando todos os pretendentes do baile demonstram interesse em Marina Thompson (Ruby Barker). A música exclama como a garota é única e incomparável, como todos estão agindo com a personagem.

E assim segue em todas as músicas das três temporadas e do spin off, Rainha Charlotte, com músicas pop no estilo de cover instrumental que são compatíveis com a situação, o que mostra a sensibilidade e trabalho bem feito que toda a equipe responsável se dedicou para realizar.

Porém, esse trabalho não é nenhuma inovação, podemos ver essa estratégia musical em outras obras como nos três filmes da franquia Guardiões da Galáxia, da Marvel Estúdios. Diferente de Bridgerton, a trilogia não muda o estilo das canções, mas a trilha sonora inteira é feita para representar a história retratada no roteiro. O diretor, James Gunn, planejou o filme em torno da “Awesome Mixtape” que faz parte de uma lembrança muito importante que o protagonista Peter Quill tem do seu relacionamento com a mãe.

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A maior parte das músicas presentes na trilha sonora do filme fazem parte dessa fita criada pela mãe do Senhor das Estrelas, e elas são o fio condutor dos sentimentos que o diretor quer que o espectador sinta assistindo as cenas. As composições trazem um significado ainda maior para as situações, mesmo que elas contrariem o que está acontecendo, como logo no começo onde tem um clima desconfortável entre dois personagens e para descontrair começa a tocar Go All The Way (Raspberries – 1972), tirando a tensão do momento e no final da cena o trecho da melodia termina com “Baby, Please, go all the way!” ( Baby, por favor, vá até o fim!), como se indicasse que o sossego tivesse acabado já que a paz é interrompida por uma ligação desagradável.

Em entrevista para o site Vulture, James Gunn explicou que após baixar vários hits dos anos 70 citados pela Billboard, se inspirou para criar várias cenas diretamente em cima de uma música “Eu ouvia a playlist no meu som em casa e algumas vezes ela me inspirava para fazer uma cena em volta de uma música, e outras vezes eu tinha uma cena que precisava de música e eu ouvia a playlist para tentar encontrar qual funcionaria melhor”.

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Podemos visualizar isso nitidamente isso em Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017) em que a obra Brandy (Looking Glass – 1972) é cantada e tocada várias vezes durante o filme, porém com entonações diferente, em um primeiro momento com um sentido romântico, depois com um reflexão e dúvida e, por último, como uma maneira cruel e solitário.

Outra obra em que podemos ver essa estratégia é a série The Handmaid’s Tale, onde no primeiro episódio temos a canção You Don’t Own Me (Saygrace – 2014) que mostra muito como a protagonista June está se sentindo após ser colocada em um regime onde o homem chefe da casa é seu dono. Até mesmo quando June começa a delirar com a música “Heaven Is A Place On Earth” (Belinda Carlisle – 1987) enquanto é obrigada a ver sua colega morrer aos poucos como castigo, assim, ela faz várias referências tanto à morte quanto a ir embora Gilead, lugar onde está.

Para finalizar, é interessante citar como as estratégias musicais podem utilizar a música de formas inteligentes e diferentes, como no filme nacional “Evidências do Amor”, que baseia todo seu roteiro em “Evidências” (Chitãozinho & Xororó / José Augusto), mas não apenas como o significado da letra ressaltando algo na cena e, sim, como gatilho para o acontecimento principal da produção. Essa também é uma boa forma de enriquecer a produção, já que a obra também contou com “Cheia de Manias” (Raça Negra – 1992), “Ainda É Tempo” (AnaVitória – 2021) e “Eu Quero Perder Você” (JP – 2023).

Todas essas obras representam a possibilidade de fugir do convencional criando algo uma conexão muito mais profunda com os sentidos (audição e visão) e emocional dos espectadores.

Confira a trilha sonora completa no Spotify:

 

Camila Couto

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