Branca de Neve: Não cumpre suas ameaças (…ainda bem!)

A Disney e seu desejo de explorar ainda mais as suas famosas histórias, traz às telonas mais uma recriação do clássico animado de Walt Disney de 1937: Branca de Neve. Embora, as atrizes Gal Gadot e Rachel Zegler, que interpretam respectivamente a Branca de Neve e a Rainha Má, tenham dado várias entrevistas ressaltando as diferenças do live action para a obra original, várias das suas falas foram jogadas ao vento e só serviram para deixar o público completamente desanimado para ir aos cinemas.
Inspirado no conto clássico dos Irmãos Grimm, a história acompanha a jovem princesa Branca de Neve, cuja beleza (interior) desperta a inveja de sua madrasta, a Rainha Má. Determinada a eliminar a enteada, a vilã ordena sua morte, mas Branca de Neve consegue escapar e se refugia na floresta com sete anões amigáveis. Porém, a Rainha Má não desiste de ser a mais bela de todas, nem que tenha que matar a princesa.
O filme reconta a jornada de Branca de Neve com uma nova roupagem, principalmente com canções originais compostas por Benj Pasek e Justin Paul, que criaram as trilhas sonoras de La La Land e O Rei do Show. Essa adição ao roteiro foi bem colocada na obra, entretanto as entrevistas dadas pelas atrizes principais antes da estreia da obra geraram polêmicas e um afastamento do público.
Entre os depoimentos das artistas estão a ênfase de que a obra é de uma época diferente que tem pensamentos diferentes dos atuais, como o ideal de gênero. “A realidade é que o desenho animado foi feito há 85 anos e, portanto, é extremamente antiquado quando se trata de ideias de mulheres em papéis de poder e para o que uma mulher serve no mundo”, explica Rachel Zegler.
Com esse pensamento de que a obra possui uma essência desconexa da atualidade, Zegler e Gadot teceram comentários sobre a criação de uma princesa que não precisa e não é salva por um príncipe e que a protagonista não teria um par romântico. Além da ausência de atores com nanismo e não ter a principal fala do espelho mágico.
No entanto, o filme traz todos esses elementos como na animação, não é possível ter certeza se o resultado final da obra já era esse desde o primeiro roteiro ou se sofreu alterações após as entrevistas não terem sido bem recebidas. Essa segunda opção é uma possibilidade por conta das supostas regravações que ocorreram e pelo filme ter parte que parecem ter sido “jogadas” em uma segunda montagem.
Realmente, não existe um príncipe no live action, porém inseriram o personagem Jonathan – um artista jogado à margem da sociedade que se transformou em saqueador – que salva a vida da princesa algumas vezes. Ou seja, aquele discurso contra ter um príncipe não adiantou nada no final das contas. Sem ele, a princesa morreria na floresta encantada antes mesmo de conhecer os anões. Além disso, Jonathan se torna o par romântico da protagonista.
No final, a princesa possui um pouco mais de voz e autonomia, porém não teve o peso que as atrizes colocaram. Se elas não tivessem ressaltado tanto esses aspectos, que na realidade nem foi como elas disseram, os espectadores estariam mais abertos e os resultados e críticas não seriam tão negativas.
Visto que a princesa teve pequenas ações que já seriam um bom passo em comparação com o original, como na cena em que a ela limpa a casa dos anões, ela distribui tarefas para cada um deles ao invés de limpar sozinha, enquanto eles cantam “Aprenda Uma Canção”. Ela também não prepara um jantar para os anões, como na animação.
Além do roteiro não encaixar tão bem, outros pontos deixaram a desejar, como a atuação e a edição. Zegler brilha nas canções, porém Gadot não consegue entregar uma atuação relevante. Talvez por conta do sucesso dela no primeiro “Mulher Maravilha” a crítica e o público a colocaram em um pedestal alto demais e, por isso, era esperado que a atuação dela amadurecesse com o tempo, porém ela deixou a desejar, forçando caretas isso quando ela tinha alguma expressão.
Os efeitos especiais também não foram o ponto forte do filme e mesmo os anões estando com um bom visual, o avanço da tecnologia não justifica a ausência de pessoas reais que poderiam ter sido contratadas para o trabalho. Afinal, se fosse para manter os personagens na versão digital, não precisaria realizar uma produção em live action, poderia ter feito outra versão animada.
Por fim, a releitura trouxe pontos de modernização, porém não foi bem recebida pelo público e resultou em uma arrecadação abaixo do valor investido. Ao total, a bilheteria rendeu 145 milhões de dólares pelo mundo, na primeira semana, ficando longe do orçamento do filme, que foi de 270 milhões de dólares.
As polêmicas e os baixos números foram tão impactantes que a Disney decidiu cancelar a produção do live-action de Enrolados. O projeto do estúdio era fazer um live-action da trama de Rapunzel e a ideia já estava em estágios iniciais de produção. O cineasta de Michael Gracey, (O Rei do Show) estava responsável por dirigir o longa e Jennifer Kaytin Robinson escreveria o roteiro.