Nem Um Dia Se Passa Sem Notícias Suas: A solidão do luto no meio do palco
Quantos plot twist de estourar os miolos você já assistiu nos filmes e séries? Se formos contar, faltarão dedos para a somatória. Mas a peça Nem Um Dia Se Passa Sem Notícias Suas conseguiu me tirar do chão com uma virada na história que fez toda a diferença para a representação do sentimento de luto.
O texto de Daniela Pereira de Carvalho acompanha Joaquim que se vê na missão de se desfazer de tudo o que pertencia aos seus pais, após a perda deles. Neste processo de mudança, Joaquim tem a companhia de Juliano, seu irmão. Entre caixas de papelão, garrafas de whisky e versos de Carlos Drummond de Andrade, muitos sentimentos vêm à tona como dores, perdas, lembranças e conflitos familiares.
Não há nada de inovador nos temas abordados, nem no próprio plot twist… Entretanto, assistir a uma cativante e profunda história ao vivo, a alguns metros de distância das atrizes é muito mais emocionante. Poder assistir tudo acontecendo na sua frente, as emoções, os erros, o nervosismo… é uma adrenalina que os cortes dos filmes nunca passaram.
Foi lindo entender a intensidade e complexidade de cada fase do luto com os personagens, perceber a mente desmoronar após saber a grande revelação e sentir as lágrimas escorrendo pelos rostos das atrizes, que foram muito bem guiadas pelo diretor Danilo Riva. Aliás, as intérpretes Anne Martins, Keli Santos e Suellen Souza conseguiram atuar com emoção, sensibilidade e naturalidade dentro dos personagens Joaquim, Juliano e Miguel, filho de Joaquim.
As diferenças nas personalidades de Joaquim e Juliano fazem a plateia refletir como cada um lida com os seus sentimentos, ao mesmo tempo que ilude e engana a todos com as revelações feitas até a última cena. Tudo isso embalado por uma trilha sonora repleta de músicas que complementam a cena, sendo elas saídas tanto da vitrola do personagem quanto da sonoplastia.
A única questão que atrapalhou para que a experiência não fosse perfeita foi a estrutura do local onde foi realizada a peça. É notável que quem utiliza o Teatro Metrópoles, desde os espectadores até os profissionais de cada produção fazem sua parte para manter o espaço em boas condições, porém alguns reparos devem vir dos órgão públicos, como cadeiras com defeito, chão e portas rangendo e banheiros mal cuidados.
O Coletivo Poros conseguiu alcançar com delicadeza, respeito e muito esforço sua primeira apresentação presencial com essa uma excelente peça, que arrancou lágrimas, risos, espanto e emoção de todos que assistiam.
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