Ainda Estou Aqui: Mostra a dor que nunca será curada no Brasil

Ainda Estou Aqui: Mostra a dor que nunca será curada no Brasil

Com inúmeros elogios após ser premiado com o Melhor Roteiro na 81ª edição do Festival de Veneza, Ainda Estou Aqui é exibido na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi aclamado com razão. Todo e qualquer elogio para esse filme é pouco e aqui estão alguns dos motivos. 

Baseada no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, que acompanha a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres/Fernanda Montenegro), durante a ditadura militar no Brasil. A história se passa no Rio de Janeiro, início dos anos 1970, onde uma mulher comum, casada com um deputado, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. Com isso, Eunice é forçada a abandonar a vida que tinha e se torna uma ativista dos direitos humanos enquanto luta para descobrir e divulgar a verdade sobre o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva (Selton Mello). 

O roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega consegue abordar todas as dores causadas pela ditadura de uma forma muito nítida e a direção de Walter Salles entrega todo o sentimento de agressão, dor, perda e tristeza sem utilizar cenas de agressão física intensa. Isso acontece pela história estar sendo contada por Eunice, que sofreu várias torturas psicológicas além de físicas, mas que, principalmente, sofreu por se sentir sem rumo, sem saber a quem pedir ajuda, nem o que fazer.

ainda estou aqui fernanda torres montenegro mostra internacional de cinema de sao paulo

Além de acompanhar a dor e perda da protagonista, o filme também mostra o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras, mesmo as que não lutavam em defesa de um partido ou ideal. Principalmente, como as mulheres tiveram um papel importante de luta tanto dentro da resistência, quanto como elas ficaram “abandonadas” quando seus maridos e filhos eram sequestrados. Na situação de Eunice, ela não podia nem tirar seu próprio dinheiro do banco, pois na época só quem tinha autorização para realizar saques era o marido Rubens. 

É impossível falar de Ainda Estou Aqui sem falar da atuação incrível de Fernanda Torres. Pode-se perceber toda a preparação que todo o elenco teve para participar dessa produção, mas Torres ultrapassou todos os limites, ela consegue representar uma força sobre humana tão intensa sem falar uma única palavra, suas feições e ações conseguem mostrar as consequências físicas e mentais de tudo o que ela está passando em cada cena. Ela entrega leveza e delicadeza enquanto luta de forma dura para não perder sua família.

A fotografia de Adrian Teijido é sensível e direta, que está muito bem alinhada com o som de Laura Zimmerman e Stéphane Thiébaut e a música de Warren Ellis. Tornando a experiência do espectador muito imersiva. Assim, mostrando que cada camada das cenas foi pensada com delicadeza para honrar com respeito e admiração a história de uma pessoa que lutou muito para que a justiça fosse feita, não para apenas a história do seu marido que foi encurtada de forma muito dolorosa, como também de todas as pessoas que ela pode ajudar. 

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A montagem de Affonso Gonçalves foi outro aspecto essencial para a obra, com uma história linear é possível compreender e sentir todo o sofrimento da família passo a passo. Como se estivéssemos passando por todas as situações com eles, desde a tensão antes do desaparecimento de Rubens até a mudança de estado e o passar dos anos. 

“Quando você enterrou ele?” É uma das falas mais dolorosas e marcantes, não apenas pelo luto dos filhos, mas por como eles foram obrigados a amadurecer rápido sentindo a ausência do pai. Isso contrasta bem com uma das cenas finais, quando Eunice está sendo entrevistada por ter recebido o atestado de óbito atualizado de Rubens onde consta o real motivo da morte. A personagem mostra a importância de nunca esquecermos o passado nem de desistirmos de exigir justiça pelos crimes cometidos.

Ainda Estou Aqui foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2025. Nós, do Blog, estamos na torcida!

O filme estreia dia 7 de novembro nos cinemas de todo o Brasil.

 

Camila Couto

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