Arca de Noé: é Vinicius de Moraes para toda a família
Uma coprodução entre Brasil e Índia, Arca de Noé é a maior animação brasileira já realizada, baseada na obra homônima de Vinicius de Moraes.
O filme conta a história de Tom (Marcelo Adnet) e Vini (Rodrigo Santoro) – referências livres aos inesquecíveis Tom Jobim e Vinicius de Morais – que embarcam na arca de Noé.
Eu fico impressionada com o quanto o cinema nacional vem ganhando espaço e poder assistir a uma animação brasileira, com nuances e todo o nosso gingado é uma alegria sem tamanho.
Claro que em relação à estética, o telespectador pode até reclamar, pois não tem um nível da Pixar, como em Toy Story ou DreamWorks e seu Shrek, mas no que se refere à história, esse produto nacional está tête-à-tête com as demais animações hollywoodianas.
Aliás, se você ler a sinopse do filme, pode achar um filme bobinho, mas se você observá-lo com afinco, percebe que há muitas camadas nessa história do dilúvio, embalada pela obra de Vinicius de Moraes. Uma vez que, em meio aos 40 dias e 40 noites dentro de uma arca, há disputa pelos animais por território, por alimento e pela liderança, na qual os mais fortes tentam se sobressair sobre os mais fracos, em um quê de Revolução dos Bichos com todo o nosso jeitinho brasileiro.
Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Alice Braga acertaram no timbre e nas nuances de seu Vini romântico, Tom pragmático e Nina que luta pelos seus ideais.
Contudo, nenhum personagem me cativou tanto quanto o leão Baruk de Lázaro Ramos. Não pelos inúmeros erros de português, friamente calculados, a la Giovanni Improtta de Senhora do Destino ou, ainda, o saudoso Odorico Paraguaçu, com toda a sua entonação e lábia como o autodenominado “líder dos animais”, que se assemelha demais com inúmeros déspotas e suas palavras vazias, mas que mesmo assim acabam levando multidões consigo.
Outro destaque é a Menininha de Rihana, que mescla a inocência da sua intérprete de 12 anos com a sapiência de que esses pequenos seres humanos possuem – mostrando que eles sabem tudo o que acontece no mundo e não são aversos às informações que são constantemente escancaradas em todas as mídias sociais, nas quais têm acesso (mesmo os adultos se chocando com isso).
Em Arca de Noé, Sérgio Machado soube intercalar a imortal obra de Vinicius de Moraes e condensar para um filme com vários ensinamentos tanto para a criança quanto para o adulto. É o caso, por exemplo, dos elefantes que não quiseram se meter na briga entre os animais, pois sua posição estava confortável em relação ao que estava acontecendo, o que me remete à frase dita em Enola Holmes: “Você não se interessa por política porque não tem o mínimo interesse em mudar um mundo que o favorece tanto”.
Se você quer um filme para assistir com toda a família, com ensinamentos que nos remetem às fábulas de antigamente, crítica social, gingado brasileiro e músicas que você vai amar cantar junto, não deixe de curtir Arca de Noé. Afinal, quem não conhece o poema: “Lá vem o pato. Pato aqui, pato acolá. Lá vem o pato. Para ver o que é que há”…
Até mais, e Obrigada pelos Peixes!
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