Barbie: Como identificar uma “lacração”?

Barbie: Como identificar uma “lacração”?

SPOILER DE BARBIE! ALERTA DE SPOILER!

A cada 5 pessoas com quem eu conversava sobre o filme da Barbie, 6 me perguntavam se teria “lacração”. Oi? E eu prontamente questionava de volta o que era essa “lacração” e na maioria das vezes as pessoas nem sabiam como me responder, ficavam falando sobre “ter coisas de gays e feministas”. O indivíduo nem sabe falar mal do que não gosta, seria cômico se não fosse trágico. 

Mas você sabe o que é isso que algumas pessoas chamam de “LACRAÇÃO”? Esse termo surgiu de uma forma e continuou sendo usado de outra. No começo, a expressão era apenas uma gíria para quando alguém “cala a boca” de outra pessoa que estava tentando impor suas crenças. O famoso “Lacrou”. Seria como ter “arrasado” com quem estava discutindo. 

Porém, o sentido atual da palavra vem de defender pautas como feminismo, homossexualismo, linguagem neutra e a diversidade como um todo, isso dentro e fora das telas. Com isso, quando pessoas que não aceitam essas ideologias veem esses temas em filmes e séries podem criticar negativamente falando que é “lacração”. 

Eu apoio a representatividade e diversidade dentro e fora das produções, mas apoio ainda mais quando essa representatividade é bem feita dentro do roteiro, sendo bem utilizada e não apenas colocada nas telas como um imenso incentivo Pink Money. 

(O Pink Money, dinheiro rosa em uma tradução livre, refere-se ao poder de compra da comunidade LGBTQIAPS+. Entretanto, tornou-se algo que brilha tanto aos olhos dos empresários, que muitas vezes vão contra essa diversidade, mas que querem embolsar esse dinheiro.) 

Por exemplo, ter uma personagem feminina sem um objetivo dentro de uma obra, apenas servindo de chaveiro ou escada para um personagem masculino não é representatividade, mas ter uma personagem feminina mesmo que secundária com sonhos e força para conquistar tais, isso sim é representatividade. Uma série que exemplifica isso de forma simples é a “Eu Nunca”, ela é cheia de diversidade e você não percebe, tudo é inserido com muita naturalidade no roteiro. Mas vou continuar essa conversa em outra postagem, ok? 

Onde está a “lacração” em Barbie? 

O filme da Barbie, dirigido e roteirizado por Greta Gerwig, apresenta temas como crise existencial, masculinidade tóxica, ansiedade, depressão, dependência emocional, feminismo, diversidade, entre outros assuntos. 

E por unir todos esses e outros temas em um roteiro, muitas pessoas consideraram um filme com “lacração” (e pior, anti-homem). Entretanto, o que ninguém percebeu é que o único momento em que houve uma situação “lacradora” foi justamente para criticar e mostrar como é errado. Isso ocorreu quando Sasha “destrói” a Barbie por ela ser estereotipada com os padrões de beleza da sociedade. Na cena, a menina  joga na cara da boneca as inseguranças que a aparência dela gerou em inúmeras mulheres no mundo real, mostrando que ao invés de ajudar no crescimento das mulheres, ela gerou traumas com a auto-imagem de cada uma.

Com isso, Greta conseguiu mostrar como a menina foi má e inconsequente em suas palavras. A Barbie precisava de um choque de realidade, porém isso não foi uma conversa amigável e sim uma humilhação desnecessária. A “lacração” feita pela Sasha em cima da Barbie, mostrou como defender ideais sem entender pelo que está lutando de fato e com as ferramentas erradas, pode ser mais destrutivo do que pensamos. 

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Do mesmo modo, o fato da Barbie não conseguir ser recíproca com os sentimentos do Ken não tem nada haver com “lacração”, isso é consequência de duas ações. A primeira é o fato dos personagens serem baseados nas bonecas Barbie da Mattel, assim, o Ken foi criado pela empresa de brinquedos com o único propósito: ser o namorado da Barbie. Essa é a função dele, tanto que ele não tem vários empregos nem vários sonhos, o objetivo dele é estar com ela. 

O segundo motivo por existir esse vácuo entre o casal é que a Barbie interpretada por Margot Robbie espelha os sentimentos da sua dona, Glória, e neste caso ela não tinha um Ken. A Glória não via sentido em comprar um Ken para sua Barbie. Então, a Barbie na Barbieland não sentia a necessidade de ter um namorado. Diferente das outras Barbies que vemos dando atenção e espaço para os Ken delas. 

Com isso, podemos entender que a “lacração” existia no filme apenas como uma crítica social e serviu para mostrar ao público que o “lacrou” nem sempre é o melhor caminho e que a diversidade é algo normal tanto no mundo real quanto na Barbieland. 

Confira mais detalhes do filme Barbie:

(Fonte: https://globoplay.globo.com/v/11797426/)

Celia Costa

Célia Costa é a o alter ego de Camila Couto. Ela nasceu de uma brincadeira em uma live e se tornou a ferramenta pela qual a autora conversa de uma forma mais descontraída e intima com os leitores.

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