Branca de Neve: Por que precisamos escolher entre o amor e a independência?
O live action da Branca de Neve nem estreou e já está dando o que falar com suas inúmeras polêmicas. Dentre elas estão a ausência de atores com nanismo, não ter um espelho mágico e, o que mais me marcou foram as declarações dadas pelas atrizes principais, Rachel Zegler e Gal Gadot, que interpretam respectivamente a Branca de Neve e a Rainha Má.
Os pensamentos que estou prestes a apresentar podem não ser bem interpretados, mas vamos tentar, né?
Em entrevista para a revista Variety, a protagonista Rachel Zegler disse “A realidade é que o desenho animado foi feito há 85 anos e, portanto, é extremamente antiquado quando se trata de ideias de mulheres em papéis de poder e para o que uma mulher serve no mundo” e até aqui ela está certíssima, porém para mostrarem essa indignação o que farão no filme? Vão remover o Espelho Mágico! “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? […] Assim, quando começamos a reimaginar o papel real de Branca de Neve, tornou-se o ‘mais justa de todos’, o que significa quem é a mais justo e quem pode se tornar uma líder fantástica”
As produções audiovisuais estão cada vez mais buscando atores e atrizes com visuais e etnias variados para trazer diversidade para as telas, agora temos uma Ariel negra (Halle Bailey), um Aquaman com origens havaianas (Jason Momoa) e uma Valquíria negra (Tessa Thompson), tudo isso é maravilhoso. Agora, com a diminuição da cegueira colocada pelo preconceito é possível admirar várias formas de beleza nas obras, porém isso não faz deixar de ser belo o que antes era considerado. É possível achar várias etnias, corpos e cores bonitas sem desclassificar e diminuir alguém.
No filme da “Barbie”, de Greta Gerwig, vemos isso. A Barbie Estereotipada (Margot Robbie) não deixou de ser considerada bonita na Barbielândia quando surgiram outras barbies, é como deveria ser nas telas, logo o espelho pode achar a Branca de Neve mais bonita que a rainha, porque afinal o “achar belo” vem de uma percepção individual e subjetiva, o que é errado é basear uma opinião em preconceitos.
O feminismo nasceu da luta das mulheres para fazerem o que elas desejarem, ao invés de seguir uma obrigação, esse desejo pode ser desde de não formar uma família tradicional focando seus investimentos na sua carreira, como também colocar seus esforços em ser gerente do lar. Uma escolha não anula o valor da outra, cada uma de nós possui um sonho diferente e temos o direito de lutar para realizá-lo. E aqui vamos para o ponto principal deste texto: você querer ser amada. Ainda em entrevista para a revista, Gal Gadot complementa a fala da protagonista explicando que a princesa não precisa ser salva pelo príncipe. “Ela [Branca de Neve] não vai ser salva pelo príncipe e ela é a proativa, e é ela quem estabelece os termos, é o que torna isso tão relevante para onde estamos hoje”. A justificativa das atrizes é de que a princesa não precisará do príncipe para vencer sua vilã e Gadot ainda acrescentou sua declaração com “Ela não vai sonhar com o amor verdadeiro”, como se amar a fizesse menos guerreira e merecedora da sua vitória.
Rachel ainda afirma que a Branca de Neve não será salva pelo príncipe e não vai sonhar com o amor verdadeiro. Ela está sonhando em se tornar a líder que ela sabe que pode ser. “A líder que seu falecido pai disse que ela poderia ser se fosse destemida, justa, corajosa e verdadeira” Compreendo e concordo que nós mulheres podemos ser lideres incríveis, mas o que isso impede de também sermos amadas? O diploma vem junto com uma carteirinha de celibato? Que eu me lembre não.
É importante deixar registrado que eu não fecho meus olhos para todas as décadas onde as mulheres da ficção tinham como sonhos e objetivos serem amadas por um homem, dado que elas eram apenas acessórios ou escada para um personagem. Minha reflexão é por qual motivo não podemos ser princesas que lutam pelo seu futuro, porém que também contam com o apoio ou presença de um príncipe que a ama e que (também) luta pelas suas metas.
Eu quero ter minhas batalhas para enfrentar e quando chegar em casa sentar ao lado do meu parceiro e ouvir sobre as batalhas dele e contar as minhas. Quero conquistar meus títulos, derrubar as muralhas que estão no meu caminho, pois sei que sou capaz. Porém, quero poder compartilhar isso com quem eu amo. Não quero que meu parceiro lute pelas minhas guerras, e sim, me apoie e esteja ao meu lado para aproveitar nossas conquistas.
Eu nunca fui uma princesa, sempre estive mais para Mulan do que para Rapunzel. Entretanto, não desmereço nenhuma delas. O amor pode caminhar junto com meus outros sonhos e metas, conciliados de forma consciente é possível ter os dois sem o sentimento de culpa.
O filme será lançado em 22 de março de 2024 e é dirigido por Marc Webb.
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