Jogo de Amor: Como o roteiro cativa o espectador?
Tenho certeza que algumas vezes você, leitor, deve ler meus textos e pensar “o que ela considera um bom roteiro?”. De uma forma muito simplista de explicar, o roteiro é a história que está sendo contada, com todos os detalhes da história e dos personagens. Dois filmes da Netflix podem exemplificar muito bem um bom roteiro e um ruim são eles, respectivamente, “Jogo De Amor” e “O Amor Está No Ar”.
As duas obras são comédias românticas interessantes. Em “Jogo De Amor”, acompanhamos as conquistas amorosas da jornalista esportiva, Mack (Gina Rodriguez), que cria inúmeras estratégias de sedução com seus amigos para conquistar quem eles querem. mas, um dia o feitiço cai sobre a feiticeira e ela acaba se apaixonando por um de seus alvos. Todo o desenvolvimento da história e o amadurecimento dos personagens são muito bem construídos a partir dessa premissa. Com essa sinopse, os personagens poderiam ter se tornado desagradáveis ao público, focados apenas em pegação e enganação. E ele se mostra bem diferente, apresentando muita amizade e o encontro de um bom amor.
O roteiro de Whit Anderson tem um bom ritmo, ressaltando o final, mesmo sendo acelerado, não é incoerente já que coloca ritmo dos finais dos jogos que Mack acompanha. Afinal, tudo isso é um jogo que mostra que o amor é mais importante que a conquista e que está mais próximo do que imaginamos. Além disso, o elenco contou com outros nomes como Tom Ellis (Nick), Damon Wayans Jr. (Adam), Joel Courtney (Little), Augustus Prew (Brannagan), entre outros sendo que todos demonstraram empenho para entregar boas atuações, com destaque para a protagonista Gina Rodriguez (mais uma vez como jornalista) que consegue trazer todos os sentimentos da personagem de uma forma sensível e real para o público.
Enquanto isso, em “O Amor Está No Ar”, conhecemos Dana Randall (Delta Goodrem), uma piloto extremamente dedicada de uma empresa de serviços aéreos sem fins lucrativos na Austrália. Quando William (Joshua Sasse) é enviado de Londres para revisar a contabilidade da empresa e fechar a empresa, porém eles se apaixonam. O roteiro de Adrian Powers e Caera Bradshaw segue o estilo de comédia romântica que já conhecemos, porém peca em um ponto muito importante na estruturação inicial dos personagens.
Há várias formas de mostrar que uma personagem feminina é determinada e destemida sem torná-la grossa, porém logo no começo do longa a personagem não gera a empatia e proximidade com os espectadores, pois mesmo a Dana tendo boas intenções e objetivos com a empresa de aviação, ela é grossa e ignorante. Apenas depois de alguns minutos de filme que ela melhora isso, mas já é tarde para conquistar a plateia. E devemos lembrar que como a produção está na Netflix, se o espectador não gostou dos primeiros minutos a chances dele pular para outro filme são grandes, já que quantidade não é o problema.
Uma série que mostrou muito bem como realizar essa construção de roteiro para gerar empatia e aproximação do público com os personagens foi “La Casa de Papel” (Álex Pina – 2017). A história de cada personagem foi tão bem pensada para envolver o espectador, que acabamos torcendo para que os ladrões conseguissem sair bem e com o dinheiro, mesmo sabendo que eles estavam fazendo algo errado. Tudo isso graças a um roteiro que prezou por criar um vínculo empático e emocional, colocando situações reais que, infelizmente, acontecem com pessoas reais, como a perda da guarda de um filho.
Essa não é a única forma de analisar um roteiro, mas é uma das inúmeras formas de entender como ele pode ser desenvolvido. Pois a história não precisa ser apenas boa, como também precisa cativar e prender a pessoa do começo ao fim, seja para amar ou odiar os personagens se essa for a intenção do roteirista.