Little Women (2019): A quebra do estereótipo feminino
“Só porque os meus sonhos são diferentes dos seus não significa que eles não são importantes”.
Deparei-me esses dias assistindo a um clássico dos filmes de romance: Little Women ou Adoráveis Mulheres ou Mulherzinhas, a versão de 2019.
No entanto, confesso que conheci a obra por meio do filme de 1994 – com Winona Ryder, Kirsten Dunst e Christian Bale – e até pouco tempo, era a minha versão predileta.
Mas, não se engane! A obra já foi adaptada pelo cinema 4 (quatro) vezes, um com a participação de Elizabeth Taylor (Little Women – 1949) e outro com uma versão da história ambientada nos dias atuais (Little Women – 2018).
É impressionante o quanto que revisito a obra, vejo a sensibilidade em que ela retrata as mulheres, desde a rivalidade, o companheirismo e as ambições – tudo em uma sociedade patriarcal que, pasmem, transcende as barreiras do tempo.
A trama conta a história de 4 irmãs Meg, Jo, Beth e Amy. Aliás, optei por colocar por ordem de nascimento, porque a trama, e muita gente, tende a achar que Jo é a protagonista.
Muito pelo contrário! Acredito que cada irmã tem o seu protagonismo e insere uma realidade evidenciada até o dia de hoje.
Contudo, algo sempre me incomodava em torno dessa história. O fato de que parecia que eles queriam encaixar cada irmã num estereótipo:
- Meg: a irmã apaixonada;
- Jo: a irmã selvagem;
- Beth: a irmã gentil; e
- Amy: a irmã ambiciosa.
E embora eu ame o filme de 1994, devo dizer que a obra de 2019 quebrou essa visão que o público tinha das irmãs.
Meg (Emma Watson) é apaixonada? Sim! Casou com John Brooke (James Norton) por amor, e não pelo dinheiro? Sim! Tem dois filhos lindos? Sim! Mas não espere que a vida seja só isso.
E é exatamente isso que o filme de 2019 ganha pontos no meu conceito. Embora Meg seja feliz, algo lhe falta. Ela sente isso. Ela sente a vontade de uma vida mais cômoda e com dinheiro. E está tudo bem!
Jo (Saoirse Ronan) sempre foi tida como a heroína da história por seu espírito livre e por ser a “girl power” entre as irmãs. Perdão aos eternos fãs da personagem, mas ela simplesmente é humana, e não há nada de especial nisso.
Ela é intensa, não leva desaforo para casa e nem dentro de casa. Ela é orgulhosa, acha que as coisas devem ser feitas da sua forma, acha que pode julgar os outros, sente raiva, mas também sente compaixão e se arrepende quando percebeu que seus atos levaram a quase morte da sua irmã. E é nisso que uma verdadeira heroína, ao melhor estilo grego devo ser.
Já a doce e gentil Beth (Eliza Scanlen) não quer nada que lhe interessa suas irmãs. Ela não sonha em viajar à Europa, ou escrever um best-seller, ou casar. Para Beth, a vida perfeita é o que ela já tem: junto de sua família.
Confesso que, de todas as irmãs, é que a menos me identifico, mas não julgo suas motivações nem sua resiliência e a forma de levar a vida. E por mais que aparente ser o personagem mais inverossímil na trama, acreditem, há milhares de Beths espalhados no mundo, que merecem e podem sim contar uma ótima história.
E é claro temos a caçula Amy (Florence Pugh), no qual o filme de Greta Gerwig trouxe algo a mais que os demais não conseguiram trazer: a importância e o desenvolvimento da mais nova das March para a trama.
Ouso dizer que se tem um personagem que mais evoluiu em Little Women é Amy. E digo isso como uma retratação histórica! Afinal, Amy nunca foi uma vilã e não é a pessoa egoísta e ambiciosa como tentam retratá-la. Ela apenas soube jogar o jogo de uma sociedade patriarcal, a qual já vivia.
Se Jo queria quebrar a roda, Amy queria direcioná-la para onde queria, mas sem quebrá-la.
Digo isso, porque Amy não só evolui, como também leva Laurie (Timothée Chalamet) com ela.
As pessoas dizem que Jo e Laurie deveriam ficar juntos, mas me atrevo a dizer que Jo era a bolha em que o personagem não queria sair, era o comodismo do qual ele se sentia confortável. Com Amy, Laurie toma um choque de realidade, com as palavras duras que ela diz a ele, e toma uma atitude e propósito de vida, evoluindo, assim, como personagem.
Não é à toa, que uma das falas que mais amo no filme ocorre quando Jo pergunta à Amy quando ela se tornou tão sábia e a caçula responde que ela sempre foi, mas todos estavam preocupados em somente ver os defeitos dela.
Afinal, não é isso o que a sociedade faz? Tentar encaixar um estereótipo em cada pessoa, como se ela não tivesse mil e uma nuances.
Aliás, são daí que surgem as rivalidades femininas, a falta da empatia e da sororidade, pois ninguém é capaz de se colocar no lugar do outro, para entender as motivações ou não do outro.
E é isso que o texto de Gerwig faz, com a participação honrosa de Meryl Streep (vide diálogo sobre contrato de casamento de Amy com Laurie e você entenderá). Ele é cru e sensível e ao mesmo tempo torna crível algo que nós mulheres sofremos há anos, o fato de sermos taxadas de santinha, ambiciosas, gastadeiras, selvagens e botem rótulos nisso.
Por isso, hoje, a melhor versão, para mim, de Little Women é o de 2019… Afinal, maniqueísmo é até bom para contos de fadas da Disney, mas não na realidade nua e crua, especialmente àquela evidenciada por uma “mulherzinha”.
E vocês? O que acharam de Little Women? Qual sua versão predileta?
Até mais, e Obrigado pelos Peixes!
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