Não se preocupe, Querida: O sucesso feminino incomoda

Não se preocupe, Querida: O sucesso feminino incomoda

Em meio a várias polêmicas e com a atuação de tirar o chapéu de Florence Pugh (Alice) (juntamente com uma atuação que pode melhorar de Harry Styles, como Jack), Não Se Preocupe, Querida trouxe um suspense nada inovador. Porém, conseguiu abordar alguns temas interessantes, como manipulação, machismo, papéis sociais de gênero e o incômodo causado pelo sucesso feminino. 

O filme acompanha uma dona de casa que vive em uma comunidade experimental e começa a suspeitar que a empresa em que seu marido trabalha está escondendo segredos perturbadores. Com essa premissa, a diretora Olivia Wilde (A Vigilante / Fora de Série) se arrisca no suspense com pitadas de terror e drama, enquanto discute papéis sociais de gênero e o saudosismo de dias ditos melhores descrito no famoso sonho norte-americano. Entretanto, ela poderia ter alcançado uma obra um pouco mais robusta e concreta se tivesse estruturado melhor o roteiro de Katie Silberman (Megaromantica). Ela utiliza de ferramentas visuais interessantes para instigar o espectador a entender o que é real e o que é farsa. 

Contudo, o principal tema que vamos debater aqui é uma das camadas abordadas no filme, sendo algo que atrapalha o crescimento profissional e acadêmico de muitas mulheres na vida real. 

A partir daqui terá spoilers, siga por sua inteira responsabilidade! 

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Não Se Preocupe, Querida (2022)

No final do filme, descobrimos que Jack mantém Alice presa em uma realidade projetada, e que na  verdade ele é um desempregado que não conseguiu atingir o sucesso em nada daquilo que ele se propôs a fazer e nem no que a sociedade estruturalmente machista espera que ele faça. Enquanto ela é uma cirurgiã muito competente que provê o sustento da casa, e é nesse momento que o roteiro expõe como o machismo afeta tanto o homem quanto a mulher. Pois enquanto ela está trabalhando em dois plantões seguidos para sustentar a vida deles, ele fica em casa sem arcar com a responsabilidade dos afazeres domésticos. 

Logo, quando ela chega em casa cansada, ela não tem o que comer e está tudo uma bagunça, além disso, Jack fica insistentemente exigindo que Alice tenha relações sexuais frequentes com ele, sendo que ela está em um nível de estafa gigantesco por ter que trabalhar incansavelmente dentro e fora de casa. 

Ao invés dele buscar uma melhor forma de alcançar um novo emprego onde ele também teria o sucesso, ele preferiu se afundar na própria desgraça e sem o consentimento e a consciência de Alice forçou-a a ir também. 

Assim, ele conseguiu reduzir ela apenas a um fantoche sexual, em uma ilusão onde ele era o grande herói. E dessa forma muitos homens na vida real diminuem suas parceiras para se tornarem os grandes heróis.

Outra obra que mostra essa manipulação masculina para manter a superioridade é o filme Encaixotando Helena, em que o homem literalmente paralisa a mulher para tê-la, tirando sua liberdade e sendo vital na vida dela. Filmes como esses abordados aqui apenas apresentam uma realidade e um pensamento de superioridade e posse que, infelizmente, ainda está na cabeça de inúmeros homens e até mesmo mulheres. Assim, filmes como Não Se Preocupe, Querida e Encaixotando Helena são essenciais para estimular a reflexão. 

Não Se Preocupe, Querida está disponível na HBO Max.

Camila Couto

3 thoughts on “Não se preocupe, Querida: O sucesso feminino incomoda

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