O Pior Homem de Londres: A ficção e a realidade se entrelaçam a todo momento
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2024 já começou e para a felicidade da nossa equipe conseguimos participar de algumas cabines especiais, começando pelo longa O Pior Homem de Londres. Com direção de Rodrigo Areias e roteiro de Eduardo Brito, o filme português apresenta uma Londres vitoriana, onde acompanhamos Charles Augustus Howell. Ele agenciava grandes artistas negociando suas artes, além de ser agente secreto e mestre da chantagem.
O nome desse protagonista não é tão estranho para quem gosta das histórias de Sherlock Holmes, escritas por Arthur Conan Doyle, pois o autor se inspirou no farsante para criar o personagem Charles Augustus Milverton do conto de mesmo nome, em que nomeou-o de o pior homem de Londres.
A obra chama atenção tanto pela história rica de detalhes da vida do protagonista e de todos ao seu redor, quanto pela estética da época, que traz figurinos lindíssimos e adequados para a personalidade e status social de cada personagem. A atenção aos detalhes pensados pelo diretor de arte, Ricardo Preto, fez toda a diferença, por exemplo os cabelos soltos de uma personagem para mostrar que ela não estava bem, sendo que as outras mulheres só usavam cabelo preso pelo contexto social. Além das locações e decorações que fizeram jus a toda classe e riqueza ao redor dos personagens.
A fotografia de Jorge Quintela também contribui para manter a qualidade da obra. Focado em enquadramentos teatrais, ele coloca as atuações e as pinturas em evidência. Aliado com o roteiro de Brito é possível acompanhar uma história simples e cativante de acontecimentos reais misturando realidade e ficção de uma forma natural e bela.
A falta de trilha sonora pode parecer um incômodo no começo, mas após algumas cenas e ignorando esse vício acústico que Hollywood induziu inúmeros espectadores, é possível assistir com tranquilidade o filme. Esse ponto, nessa e em outras obras presentes na 48° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo parece ter sido notado pela organização do evento, transformando o vazio sonoro em mais conteúdos artísticos. Por meio de um belo e emocionante Cine-Concerto, realizado na Sala Grande Otelo, na Cinemateca Brasileira. Essas sessões especiais já ocorrem há anos em Portugal e chegam pela primeira vez ao Brasil durante o evento, onde três filmes dirigidos pelo português Rodrigo Areias (Pedra Sonha Dar Flor, A Morte do Palhaço e O Pior Homem de Londres) foram exibidos acompanhados de apresentações musicais.
Essa versatilidade da obra proporciona uma nova forma de apreciar cada cena, mostrando que o filme funciona muito bem tanto com quanto sem músicas quando encaixadas da maneira correta. Assim, agregando qualidade, intensidade e beleza para os olhares e ouvidos dos espectadores.