Pânico 4: Literatura brasileira entre um susto e outro
Esse texto possui spoilers!!!
“Eu não preciso de amigos, preciso de fãs.” essa é uma das frases mais marcantes do final de Pânico 4 e faz um gancho direto com o livro A Hora da Estrela de Clarice Lispector. Os contextos das obras são totalmente diferentes, mas os dois possuem a “moral da história” muito parecida e trás uma reflexão que ainda está muito presente nos dias de hoje: A busca pelos seus 15 minutos de fama!
Em Pânico 4, o espectador acompanha um novo massacre na cidade de Woodsboro, onde a sobrevivente Sidney Prescott (Neve Campbell) lança seu livro de auto-ajuda e provoca o retorno de “Ghostface”. E no final, o roteiro muito bem escrito por Kevin Williamson constrói uma narrativa muito inteligente por meio de uma metalinguagem, onde explica ele mesmo, enquanto expõe como fazer uma refilmagem digna, em que não se estraga o filme de inspiração ao mesmo tempo em que se cria algo novo. Assim, chegando na grande vilã da vez, a Jill Kessler (Emma Roberts).
A franquia Pânico também ficou conhecida por fazer referências a grandes outros filmes de terror e satirizar aspectos e características dos filmes slashers muito aclamados pelo público e pela crítica, como Halloween e Sexta-Feira 13, e isso não fica de fora do quarto filme, que revisita toda a produção do terror nos anos 2000, ironizando as refilmagens dos clássicos e os filmes chamados “pornô de tortura” como Jogos Mortais de James Wan e O Albergue de Eli Roth.
Diferente do contexto do último livro da escritora brasileira que acompanha a história de Macabéa, uma jovem alagoana que mora no Rio de Janeiro e foi criada por uma tia muito religiosa e moralista. Macabéa cresceu com muitas dificuldades financeiras e sociais, mesmo assim tinha sonhos e desejos. Na obra podemos entender as injustiças sociais do Brasil e a migração do nordestino para os centros urbanos do país, como o Rio de Janeiro.
Mas como o livro está ligado ao filme?
No livro, Macabéa é apresentada como alguém muito pobre, mesmo com pouco estudo conseguiu um emprego de datilógrafa e seu salário era tão pequeno que mal tinha o que comer e que seus luxos eram pintar as unhas roídas com esmalte vermelho e ir ao cinema, o que a fazia desejar ser uma estrela de cinema, como Marilyn Monroe. Esse era seu grande sonho. E ao chegar no final da história de certa forma ela alcança tal objetivo, já que é atropelada por um ônibus e sua morte é testemunhada por inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela. Dessa forma, Macabéa morre ensanguentada, porém encantada por ter conseguido ter seu momento de visibilidade.
Da mesma maneira que Jill, tem uma morte noticiada pela imprensa para toda a cidade. A personagem de Pânico 4 fez de tudo para ser a nova Sidney Prescott e ser uma grande estrela, o que ela não esperava era ver seu plano dando errado e causando sua própria morte.
Tanto Macabéa quanto Jill queriam ser vistas, cada uma de formas e com objetivos diferentes, mas trazendo-nos o pensamento de querer fama e estrelismo. Isso é um anseio de muitas pessoas hoje em dia, principalmente quem busca fama e/ou dinheiro nas redes sociais, seja fazendo vídeos de entretenimento ou criando o chamado “conteúdo de valor”.
Este ano, o cinema de terror nos surpreendeu positivamente mais uma vez com outro filme excelente, Pearl. E nele também acompanhamos a jornada da protagonista, Pearl (Mia Goth), que precisa cuidar do pai doente com a supervisão da sua mãe, porém ela deseja a vida glamourosa que ela viu nos filmes. Para conquistar esse sonho, ela faz de tudo, incluindo matar os próprios pais.
Em Pearl, além da atuação e roteiro incrível de Mia Goth, também conseguimos sentir a frustração da protagonista por não ser feliz como ela gostaria já que tudo o que ela tem não era o que queria, mas um resultado das frustrações da sua mãe sendo concretizadas nela. Já que sua mãe também teve seus sonhos roubados dela e descontou essa insatisfação em Pearl.
Mas será que tem como piorar?
Segundo os roteiristas do episódio Nosedive de Black Mirror (Temporada 3 – Episódio 1), Michael Schur e Rashida Jones, o futuro nos aguarda uma realidade tão mais próxima disso que assusta quem assiste pela grande semelhança com a atualidade. Nesse episódio, a vida em sociedade depende do seu status nas redes sociais, e vemos essa realidade (não tão) distópica pelos olhos de Lacie, que tem a oportunidade perfeita de crescer ao ser convidada por sua amiga de infância para ser madrinha em seu casamento elitista. No entanto, para que isso aconteça ela precisa de muitas curtidas e uma ótima pontuação para ela conseguir chegar lá.
Mesmo sendo assustador, já temos uma amostra dessa realidade hoje. Com as redes sociais exigindo uma alta exposição da sua vida pessoal e profissional, e uma distorção do que é bom para a saúde física e emocional, é possível ver como número de curtidas podem influenciar muito e comentários maldosos escritos de um celular podem destruir a vida de várias pessoas.
E você, está em busca dos seus 15 minutos de fama?